Debates sobre Formação de Professores e Mestrados Profissionais apontam desafios na relação com a educação básica

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Diante dos desafios da  crise  que marca o país, a educação é uma das áreas mais afetadas principalmente por retrocessos a direitos duramente conquistados. Ao falar sobre os desafios colocados para formação de professores, as pesquisadoras Professora Dra Maria de Fátima Rodrigues Pereira(UTP) e Professora Dra Gisele Masson(UEPG) , que compuseram a mesa “A Anfope: fundação e princípios para a defesa da formação dos professores brasileiros”, situaram o tema frente ao momento atual. Para Maria de Fátima, “a crise é estrutural e afeta essencialmente a classe trabalhadora que sente-se limitada nas relações de produção e isso atinge diretamente a formação de profissionais e, neste caso, a dos professores.” A escola, para a pesquisadora, tem sido o centro das atenções do avanço do pensamento retrógrado que se aliançou neste momento a setores que vem marcantilizando e precarizando em especial a escola pública.” Quando temos um projeto, o Escola sem Partido, que quer retirar o pensamento crítico, a arte, a filosofia e inclusive a ciência o que está em xeque é a escola na sua concepção moderna inicial burguesa. E é neste contexto que nos desafiamos a pensar sobre a formação de professores, indo além desta concepção para chegarmos a uma escola de fato, crítica”, afirmou Maria de Fátima.

Como desafios, a Professora Dra Gisele Masson, elencou inicialmente os princípios da formação, que ainda não estão garantidos: “Um projeto de formação sempre na perspectiva crítica, a garantia da formação inicial dos professores da educação básica no modo presencial e em nível superior. Sendo assim, que as universidades e faculdades de educação sejam locais prioritários para a formação dos nossos professores”, destacou. Além disso,  defendeu “que a unidade entre teoria e prática nos projetos de ensino supere a epistemologia da prática e alcancem verdadeiramente a práxis, baseada na interdisciplinariedade e trabalho coletivo ”

Além dos princípios básicos que fazem parte da formação de professores, Gisele falou sobre o principal desafio para a Anfope: a criação do Sistema Nacional de Formação de Professores. “Esta é uma luta grande que precisamos fazer, dando organicidade na formação de professores e a garantia de um regime de colaboração entre União, Estados e Municípios.” Neste mesmo sentido, perseguir a efetivação da Meta 17, do Plano Nacional da Educação, é outro grande desafio. “Temos como objetivo chegar a 100% de professores da educação infantil com formação em nível superior. Hoje temos no Paraná 76,2%, em Santa Catarina, 68,4% e no Rio Grande do Sul 71,8% de professores formados”.

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Mestrados Profissionais:

Seguindo o debate sobre formação de professores para a educação básica, a Mesa 2, “Mestrados Profissionais e suas interlocuções com a Educação Básica: agentes, meios e práticas”, contou com a organização da Professora Ana Paula de Araujo Cunha ( IFSul) e debatedores, Professora Dra Flávia Obino Corrêa Werle ( UNISINOS) e Bento Selau ( UNIPAMPA). A relação direta das produções intelectuais oriundas dos programas de pós graduação dos mestrados profissionais foi analisada pelos debatedores e presentes.

Ao analisar de forma qualitativa um grande conjunto de resumos publicados por alunos entre 2012 e 2014, a Professora Dra Flávia Obino Correa Werle, destacou que muitas produções apresentam problemas quanto a clareza do projeto de intervenção que aquela instituição de pós graduação defende.” Acredito que a interlocução com a educação básica decorre de uma escolha expressa do projeto político pedagógico do Mestrado Profissional,” explicou a pesquisadora. Outra característica que revela a qualidade dos resumos é da onde o aluno está falando. “Os espaços de práticas profissionais dos estudantes e as possibilidades de intervenção e pesquisa na educação básica explicam a aproximação ou o afastamento da realidade em relação aos objetos de pesquisa. Por isso, é preciso que os programas tenham o que chamamos de Abordagem Metodológica Marcante, relacionando especificidades locais com as normas nacionais” Neste sentido, o Professor Bento Selau trouxe para o debate experiências sobre o Programa de Pós Graduação da Unipampa, destacando que o projeto pedagógico já começa no edital de seleção, com prioridade para alunos professores da rede e preferencialmente da escola pública. E, a definição clara desde o início, no momento da seleção que o projeto deve ter um foco de intervenção na realidade das atividades relacionadas à educação básica. “Chegando ao Mestrado Profissional, o aluno terá acesso a uma abordagem de intervenção a partir da história cultural da atividade, o que vem trazendo além de excelentes projetos de intervenção, o processo de ensino aprendizagem sobre produção científica”, explicou Bento.

No Brasil, o primeiro mestrado profissional em educação data de 2009, é o Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública (UFJF), o que configura um período ainda curto que permite desta forma, segundo a Professora Ana Paula de Araujo, mediadora do debate, “a criação de uma rede para que possamos aprofundar o debate e aprimorar a relação dos mestrados profissionais com as necessidades da educação básica.” O principal desafio colocado pelos debatedores da mesa é que a partir dos avanços já feitos em especial nos debates entre os MPEs, que se garanta um reconhecimento de que sua ênfase de pesquisa aplicada, tem caráter acadêmico científico e é um ato político, ao se reconhecer como formação de profissionais da educação que irão intervir nos seus espaços de atuação.

Fotos: André Andrade

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